sábado, 17 de abril de 2010

Vaticano e Merchandising: um Case-Study

A igreja católica é um case-study incontornável nos cursos de Gestão. Sendo uma das maiores empresas multinacionais do mundo tanto em número de clientes como a nível de receitas, destaca-se também por ser uma das mais antigas. É surpreendente a forma como tem encarado os desafios ao longo dos séculos, adaptando-se aos tempos e reinventando-se. À medida que as mentalidades mudam também a doutrina eclesiástica se altera, criando novos dogmas não citados nos evangelhos e engendrando novas formas de extorquir dinheiro aos governos e aos fieis. Tudo para servir o propósito maior - encher os bolsos de sua santidade e a respectiva comissão executiva.

Mas nem tudo é um mar de rosas, e manter a máquina católica "a bombar" requer talento. O income monetário tem vindo a diminuir com o aumento de vários factores, nomeadamente o ateísmo, o "catolicismo não praticante", e a sociedade de consumo. Longe vão os tempos em que toda a gente era crente e pagava o dízimo. Hoje em dia, embora haja mais fartura, há também mais egoísmo e outros aliciantes.

O Vaticano soube reorientar o seu negócio para outras áreas de forma a compensar a perda de rentabilidade, tal como muitas multinacionais de sucesso. A BlockBuster começou a vender gelados, muitos cinemas a vender pipocas, as empresas de cartões de crédito a vender seguros, e o Vaticano apostou no merchandising. Inicialmente especializou-se na venda de santos. Acaba por ser algo irónico uma instituição que se rege por uma série de mandamentos escritos pelo próprio Deus especializar-se na venda de santos. Principalmente quando um desses mandamentos diz explicitamente "Não farás para ti nenhum ídolo". (Sempre achei algo perturbador que a maior preocupação de Deus - segundo o velho testamento - fosse que as pessoas fizessem ídolos para adorar. Nitidamente um Deus que não suportava concorrência.) Mas infelizmente os tempos são outros, a igreja católica não detém o monopólio. E em tempos de crise, não se olha a meios para atingir fins, certo? A igreja católica optou sábiamente por ignorar este mandamento. Deus decerto compreende.

Dos santos passaram então às velas, aos peditórios, ao pagamento por casamentos, baptizados, comunhões, missas de funeral, missas de 7º dia, missas de mês, ... enfim, alargaram o seu leque de produtos. Actualmente cobram para se entrar em igrejas, catedrais, museus, mesmo que seja para ver peças de arte que a igreja arrecadou por métodos "pouco ortodoxos" ao longo dos tempos. Hoje em dia também se encontra facilmente em qualquer igreja ou quiosque itens de merchandising variados, tais como bíblias, terços, cruzes, canecas, canetas, medalhas, álbuns de fotos, etc, sem esquecer a milagrosa água benta.

O ano passado o Vaticano surpreendeu com um inovador item de merchandising: o CD do papa. Ratzinger, apesar da sua idade avançada, mostrou possuir uma voz pujante que não fica atrás de muitos intérpretes portugueses famosos, tais como Marco do Big Brother, Zé Cabra, ou mesmo José Castelo Branco. Esta sua voz angelical (não confundir com este angélico) terá sido detectado por seus pais desde o berço - justificando nome de baptismo do Rato Cantor.

Quis o destino que não fosse esse o seu ganha-pão, mas devo dizer que não se saiu nada mal. Embora não aufira rendimentos ao nível de muitos outros CEOs, tem outro tipo de regalias: habitação de luxo, a sua própria cidade-estado, imunidade diplomática, direitos de antena, e como não poderia deixar de ser, ser a face da moralidade a nível mundial.

Não percam brevemente a continuação deste post, onde irei detalhar a última novidade em termos de merchandising papal em Portugal. Deixo-vos com algumas passagens bíblicas, porque nunca é demais recordar:

"E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas; E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões."
Mateus 21:12-13

"...é mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus."
Mateus 19:24
Marcos 10:25
Lucas 18:25

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